A psicossomática pode ser definida como uma ciência integrativa de alguns campos da medicina, aliados à psicologia que, compreende o ser humano sob seu aspecto integral, abordando sua dimensão física, psíquica e simbólica como sendo igualmente importantes. Compreende-se que, este conjunto se dá através da interação do indivíduo com seu meio e a forma como foi criado, abarcando fatores sociais, psíquicos e comportamentais como chaves para o seu desenvolvimento. Para o psiquiatra polonês Lipowiski, seria um termo que se refere à inseparabilidade e interdependência dos aspectos psicológicos e biológicos da humanidade. A essa forma de ver o ser humano, como uma totalidade, podemos chamar de holística pois compreende sua inseparabilidade ou exclusão. Seria como tirar uma peça de uma engrenagem, o que interferiria no funcionamento e desempenho da máquina toda. Esta concepção holística considera o ser humano de forma integral, como um ser dotado de uma estrutura corpo-mente-espírito que compartilha todas as informações entre si.
A psicologia profunda de Jung – a abordagem a qual utilizo como base em minha terapêutica – possui uma perspectiva finalista e considera o ser humano como um ser psicossomático, isto é, a psicossomática está presente em toda e qualquer doença e acontece a partir da atuação do inconsciente que compensa um aspecto unilateral da consciência. O sintoma deflagrado no eixo corpo-psique está a serviço do Self, que promove a doença para promover a cura, onde a doença não é o que está errado. “[…] é uma reação do organismo, uma compensação, com a finalidade de levar o indivíduo a integrar o reprimido, religar o ego ao seu eixo com o Self ” conforme escreve Ramos.
Muitos séculos já se passaram em reflexões e buscas incessantes dentro do corpo físico, para encontrar a própria fonte da vida. Entre povos e culturas antigas, as doenças eram entendidas como manifestações divinas, manifestações da natureza, manifestações dos deuses em nós, isto é, dava-se uma explicação dotada de sentido para um adoecimento. Fazendo um enorme saltando pela história da humanidade, alcançamos uma era do monoteísmo da consciência e abolição do politeísmo, onde deuses e forças naturais não nos dominavam mais e a consciência ganhou supremacia. O sentido e significado das relações homem-natureza foram se reduzindo e se perdendo cada vez mais, e, com o desenvolvimento da medicina, as doenças passaram a ser causadas pelo ego, aquele que sabe, descobre, determina, prova, escolhe, cria e é culpado.
Neste sentido, a psicossomática, na perspectiva junguiana, nos possibilita aproximar e religar aspectos que fazem parte de nós e que, por alguma razão encontram-se apartados da consciência, atuando clandestinamente nas sombras à medida que as experiências mexem e geram emoções, trazendo conteúdos associados com um propósito e uma proposta de mudança de algo que está descompensado em nós e chegou a seu limite.
“[…]Quanto mais capazes formos de nos afastar do inconsciente por um funcionamento dirigido, tanto maior é a possibilidade de surgir uma forte contraposição, a qual, quando irrompe, pode ter conseqüências desagradáveis (JUNG, 2009, pg.7).”
Os sintomas e as doenças são a maneira que conseguimos identificar nosso distanciamento de nós mesmos, que algo não está indo bem internamente, pois até então, com um corpo sem nenhuma manifestação, ele sequer é notado.
Às vezes, avançamos sinais, excedemos limites em nossas atitudes, e até refletimos sobre determinada questão, mas paramos mesmo de exceder e reconhecer nossos limites, apenas quando o corpo nos sinaliza e reage por meio de alguma disfunção ou sintoma.
Um sintoma, por outro lado, pode se tornar um mapa de si mesmo que vai iluminando os caminhos internos, por meio de pontes simbólicas entre as partes cindidas, que nos permite ampliar se a atravessarmos – aqui está a oportunidade de aproximar-se do inconsciente -, abrindo-nos para sua linguagem e explorando as demais capacidades humanas que dispomos para permitir a comunicação e assimilação que acontece através das projeções e criações.
Pode-se expressar criativamente sua experiência de interação com os elementos simbólicos que lhe tocam e perceber por quê movimenta, para quê movimenta seu ser.
Só nos aproximamos de nossa integridade através dessas antinomias. Conforme vivemos e somos tocados pelas experiências, vamos definir e redefinir nossos parâmetros e interagir com nossos aspectos que emergem e submergem no inconsciente. Quando definimos algo ideal para nós, geramos o contraponto, a sombra, aquilo que é não-ideal. Quando algo em nós entra em conflito com o não-ideal, formamos um nó energético, uma trava que impedirá o fluxo da energia por este canal que é importante, assim como toda veia sanguínea do corpo tem sua importância. Se a energia não circula e não cumpre sua função de ser, ela se acumulará naquele ponto oculto e sombrio do inconsciente, será um ponto cego pulsante que reverberará de alguma maneira no todo e provocará algum desequilíbrio visível, na concretude do ser. Este é o movimento que gera os embates com os aspectos reprimidos, a intensidade da rejeição denota uma força unilateral consciente de identificação com um aspecto, que impedirá a fluidez de sua multiplicidade e graças à fragmentação da consciência, recebemos avisos por meio dos sonhos, atos falhos etc, para que isso seja visto. Jung nos diz que:
“[…] Os efeitos patológicos só aparecem quando o indivíduo se depara com uma situação que ele não é mais capaz de dominar. A interrupção conseqüente da evolução da personalidade possibilita um desvio para as fantasias infantis que existem de forma latente em todo ser humano, mas que não chegam propriamente a impedir a trajetória normal da personalidade consciente. Mas quando as fantasias alcançam um determinado grau de intensidade, começam a irromper na consciência, gerando um estado de conflito perceptível para o paciente: a cisão em duas personalidades caracteristicamente distintas. De fato, a dissociação já havia sido preparada no inconsciente, na medida em que a energia não utilizada que escoa da consciência fortalece as propriedades inconscientes negativas, sobretudo os traços infantis da personalidade (JUNG, Presente e Futuro par. 546).”
O sintoma vem numa ação de cura, agindo como se fosse um medicamento, atrapalhando o fator predominante na consciência e comunicando metaforicamente através dos órgãos sua ferida.
“A somatização é o limite imposto pela natureza diante de um excesso de energia canalizado unilateralmente. A natureza contrabalança essa tendência utilizando o corpo, como se buscasse um meio mais efetivo para realizar suas metas” (Ramos, 2006, pg. 73).
Seria como tentar segurar uma barragem rachada que contém a passagem de um rio, a pressão da água só aumenta as rachaduras e vazamentos, em algum momento esta construção sólida cederá e toda a água acumulada descerá de uma só vez, com o impacto momentâneo daquela liberdade de fluir. Naturalmente esta força moverá pedras de lugar e levantará muito sedimento, quebrará galhos, arrancará arbustos, mas ainda assim, em seu tempo, encontrará harmonia.
Aplicando esta metáfora à consciência que lida com um complexo constelado, podemos compreender o sintoma que vai sendo ignorado e patologizando, como a barragem do rio que vai cedendo, para que a energia psíquica venha à tona.
Então quando uma doença surge, ela denuncia ao meio externo um desequilíbrio interno que passa a desequilibrar o consciente também, e gera uma desabitação do presente, desencadeando fatores fisiológicos. O indivíduo, por sua vez, traz o tom da doença por meio de sua história no mundo, sendo atravessado por todo o conjunto de elementos familiares, ancestrais, sociais, arquetípicos que o compõem garantindo que ele terá uma experiência única com o sintoma ou doença e a ideia de sua origem ou causa poderá talvez auxiliar em sua contextualização.
Um novo sintoma no corpo de um indivíduo requer uma visão holística levando em conta todos estes elementos que o compõem. O ponto crucial é quem está ali dentro vivendo toda aquela combinação psicossomática, dando e recebendo sentido à vida.
As perguntas “para quê” determinada doença veio nos visitar pode ser de grande ajuda para direcionar nossas observações sobre o fenômeno que anima o corpo naquele presente. Poderíamos extrair, por exemplo, qual aspecto ela aflora em nós e quais não reconhecemos ou nunca vimos? Assim poderíamos ampliar para além do corpo individual, no corpo da sociedade, por exemplo, quando uma epidemia nos assola, e seguir ampliando quais aspectos a visita da doença aflora nos indivíduos e como isto está sendo vivido, como isto contribui para o desenvolvimento do ser e a partir de quais meios podemos ampliar sua vazão, para termos mais contato e efetivamente colocar o ego a serviço do Self.
por Larissa K.
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